Por Joana Estrela, astróloga e colunista convidada
Quando eu comecei a estudar astrologia, lá pelos meus 19 anos, não imaginava o quanto aqueles símbolos estranhos e aquelas casas numeradas mudariam minha visão sobre relacionamentos. Na época, estava saindo de um namoro complicado com um geminiano intenso que, olhando pra trás agora, tinha todos os traços clássicos do seu signo em desequilíbrio: comunicação confusa, indecisão crônica e aquela sensação de estar namorando duas pessoas diferentes.
Foi justamente depois dessa experiência que mergulhei no mundo da astrologia com um propósito bem específico: entender como diabos eu sempre acabava nos mesmos padrões amorosos. Será que era coincidência ou tinha algo mais profundo ali?
Os mapas que revelam quem realmente somos
Descobri que a astrologia vai muito além do seu signo solar. O mapa astral completo é como uma foto do céu no exato momento do seu nascimento, revelando camadas de personalidade que nem sempre são óbvias no primeiro encontro.
“As pessoas me perguntam se acredito que os astros controlam nosso destino”, comentei certa vez com minha mãe enquanto mostrava a ela as possíveis compatibilidades para meu irmão mais novo. “Digo que não controlam, mas dão pistas valiosas sobre nossos padrões emocionais.”
No meu caso, ter Vênus em Escorpião explica minha tendência a relacionamentos profundos e intensos, muitas vezes carregados de drama. Durante anos resisti a essa informação – quem quer se enxergar como alguém que inconscientemente busca intensidade emocional, às vezes até destrutiva? Mas foi só depois de aceitar esse aspecto que comecei a fazer escolhas mais conscientes.
Numa tarde de outono, quando as folhas caíam lá fora e eu me enrolava num cobertor felpudo com cheiro de amaciante novo, comparei os mapas astrais dos meus cinco relacionamentos anteriores. A descoberta me deixou boquiaberta: todos eles tinham Mercúrio formando aspectos tensos com meu Saturno. Na prática, isso significava que a comunicação sempre seria um desafio entre nós.
Claro que meus amigos mais céticos davam risada. “Você realmente acredita que sua vida amorosa depende de planetas?”, questionou Pedro, meu amigo de infância, enquanto tomávamos um café. Respondi que não era uma questão de determinismo, mas de autoconhecimento.
A astrologia como ferramenta de compatibilidade
Uma das aplicações mais úteis da astrologia nos relacionamentos é a sinastria – a comparação entre dois mapas astrais para identificar pontos de harmonia e desafio. É como ter um manual de instruções para entender por que você e seu parceiro brigam sempre pelos mesmos motivos.
Quando conheci Rodrigo, por exemplo, a química foi instantânea. Aquela sensação de formigamento na nuca, o sorriso que não sai do rosto, a leveza… tudo indicava uma conexão especial. Mas antes de me jogar de cabeça como costumava fazer, decidi analisar nossa sinastria.
O que encontrei explicava perfeitamente aquela atração magnética: seu Marte fazia conjunção com minha Vênus, criando uma explosão de atração física. Por outro lado, seu Saturno formava um quadrado com meu Sol, indicando que ele poderia ser muito crítico comigo ao longo do tempo.
“Isso não significa que não daria certo”, expliquei para minha melhor amiga enquanto escolhíamos frutas na feira de domingo. “Significa que precisaríamos trabalhar conscientemente nesse ponto para construir algo saudável.”
Acabamos namorando por dois anos. As previsões astrológicas se confirmaram – a atração física era incrível, mas sua tendência a me criticar se tornou um problema recorrente. A diferença é que, por conhecer esse padrão antecipadamente, conseguimos conversar sobre isso de forma mais objetiva.
Durante o inverno, quando os dias mais curtos naturalmente nos deixavam mais introspectivos, desenvolvemos um ritual de comunicação que ajudava a suavizar esse aspecto desafiador entre nós. Nas noites de segunda-feira, acendíamos uma vela com aroma de canela e compartilhávamos percepções sobre o relacionamento.
Minha irmã, sempre cética, achava graça da nossa “sessão astrológica semanal”. Mas foi justamente essa prática que nos ajudou a superar os momentos difíceis. Quando finalmente nos separamos, foi por outros motivos, e conseguimos manter uma amizade sincera.
Dicas práticas para usar a astrologia na busca amorosa
- Comece pelo autoconhecimento: Antes de analisar compatibilidades, entenda seu próprio mapa. Sua Vênus indica como você ama e o que valoriza; seu Marte revela como você age para conquistar; a Lua mostra suas necessidades emocionais profundas.
- Identifique padrões: Se você sempre se envolve com o mesmo “tipo” de pessoa, a astrologia pode revelar o que está por trás dessa repetição. No meu caso, percebi que sempre me atraía por pessoas com Sol ou Ascendente em signos de ar – o que explica minha fascinação por parceiros intelectuais e comunicativos.
- Use aplicativos de compatibilidade como primeiro filtro: Não para descartar pessoas, mas para entender possíveis dinâmicas. Aquele crush novo tem Marte em quadratura com seu Vênus? Prepare-se para uma relação intensa, talvez com alguns conflitos.
- Estude os trânsitos: Certas fases astronômicas favorecem novos relacionamentos. Quando Júpiter está transitando pela sua casa 7 (área dos relacionamentos), por exemplo, as chances de encontrar alguém especial aumentam.
- Não transforme a astrologia em desculpa: Uma compatibilidade astrológica desafiadora não significa que o relacionamento está fadado ao fracasso. Como dizia minha avó: “os astros inclinam, mas não obrigam”.
Na primavera passada, durante um retiro de astrologia no interior de Minas, tive uma revelação importante. Enquanto observava o céu estrelado, sentindo o vento morno bagunçar meus cabelos e o cheiro de terra molhada que subia do jardim após a chuva, entendi que a astrologia é como um mapa para uma jornada que você mesmo escolhe como percorrer.
“Talvez o maior presente da astrologia não seja prever com quem ficaremos”, comentei com o grupo enquanto compartilhávamos histórias ao redor da fogueira, “mas nos ajudar a entender por que escolhemos quem escolhemos.”
Aquele momento foi transformador pra mim. Percebi que passei anos procurando o parceiro “astrologicamente perfeito”, quando na verdade deveria estar usando aquele conhecimento para me tornar uma pessoa mais consciente em qualquer relacionamento.
Hoje, depois de tantas experiências e aprendizados, uso a astrologia como uma bússola, não como um GPS rígido que me diz exatamente onde ir. Nos dias quentes de verão, quando saio para encontros, levo comigo a compreensão dos astros, mas deixo o coração aberto para surpresas.
Afinal, como diria qualquer bom astrólogo: o livre-arbítrio sempre terá a última palavra.