Nas tardes de domingo, quando o céu de São Paulo se tinge de laranja e o barulho da cidade diminui um pouco, costumo revisitar meu mapa astral. Tenho aquelas folhas já amassadas de tanto manusear — resultado da consulta que fiz há quase dez anos com a astróloga Marina Lemos, no bairro de Pinheiros. Na época, eu estava completamente perdida no amor. Saía de um relacionamento de seis anos e me perguntava por que sempre parecia escolher parceiros que… bom, não eram exatamente o que eu precisava.
“Vênus em Escorpião no seu mapa explica muita coisa”, disse Marina naquela tarde chuvosa, enquanto eu observava o desenho circular repleto de símbolos que supostamente explicavam minhas tendências românticas. Confesso que fui cética no início — jornalista por formação, sempre preferi dados concretos. Mas os anos foram mostrando que aquele papel tinha mais verdades do que eu gostaria de admitir.
As casas astrológicas e os romances que habitam sua vida
Todo mapa astral possui doze casas astrológicas, cada uma regendo diferentes aspectos da vida. A Casa 5 (criatividade e romance) e a Casa 7 (relacionamentos e parcerias) são as grandes protagonistas quando o assunto é vida amorosa. No meu caso, Marte na Casa 7 indicava uma tendência a relacionamentos intensos e, por vezes, conflituosos.
“Você busca parceiros que te desafiem”, explicou Marina. E como isso se provou verdadeiro… Lembro do Paulo, meu ex, que transformava qualquer conversa em debate acalorado. Nossa dinâmica era de tirar o fôlego — às vezes no bom sentido, outras nem tanto. Acabamos nos desgastando naquela constante batalha de forças que, segundo meu mapa, eu inconscientemente procurava.
Nas reuniões de família, minha tia Solange sempre comentava: “Menina, você gosta mesmo é de complicação. Por que não procura alguém mais tranquilo?” Eu dava risada, mas internamente sabia que havia algo mais profundo ali. Não era escolha consciente, era quase… instintivo.
Depois de Paulo, veio Rodrigo — água para meu fogo. Com ascendente em Peixes e Lua em Câncer, era sensível onde eu era direta. Duramos dois anos intensos, época em que aprendi que opostos podem se atrair, mas também podem se anular. O inverno paulistano daquele ano foi particularmente difícil; enquanto a cidade se cobria de névoa nas manhãs frias, nosso relacionamento também perdia nitidez.
Os desafios específicos que enfrentei seguiam um padrão curioso. Meu Saturno em oposição a Vênus criava o que Marina chamou de “lições kármicas no amor” — uma tendência a relacionamentos que ensinam através da dificuldade. Erros? Cometi vários! Principalmente o de tentar “consertar” parceiros em vez de aceitá-los como eram. Ou então de me anular para manter a paz, contrariando meu Marte em Áries que pedia autenticidade e assertividade.
Entre encontros e desencontros, gastei pequenas fortunas em terapia, livros de autoajuda e, claro, mais consultas astrológicas. Minha amiga Débora, psicóloga pragmática, dizia que eu poderia ter economizado só prestando atenção nos padrões que repetia. “Tá escrito no céu ou na sua cabeça? Qual a diferença?”, provocava ela. Talvez ambos.
Quando os trânsitos planetários mexem com seu coração
Uma das grandes contribuições da astrologia para minha vida amorosa foi entender os ciclos. Os trânsitos planetários — movimentos atuais dos planetas que dialogam com nosso mapa natal — ajudam a compreender por que algumas fases são mais propícias ao amor e outras parecem verdadeiros desertos emocionais.
Durante meu retorno de Saturno (fenômeno que ocorre por volta dos 29 anos), percebi que todas minhas concepções sobre relacionamentos estavam sendo repensadas. Como jornalista, cobri inúmeras matérias sobre relacionamentos modernos, mas foi vivendo meu próprio “reset” saturnino que entendi na pele as transformações. Foi quando conheci André, que chegou quebrando todas as regras que eu tinha estabelecido.
André tinha Sol em Touro — signo tradicionalmente associado à estabilidade e sensorialidade. Nossa conexão trouxe texturas novas para minha vida. As noites assistindo filmes no sofá de veludo azul do apartamento dele no Itaim, o cheiro de café fresco nas manhãs de sábado, a sensação da lã macia do casaco que usávamos compartilhado nas caminhadas pelo Ibirapuera durante o outono. Detalhes que meu mapa astral, com Vênus em Escorpião, apreciava intensamente — a profundidade dos sentidos, a intimidade das pequenas coisas.
Minha mãe, que sempre torceu o nariz para “essas coisas de astrologia”, foi a primeira a notar a diferença. “Não sei que planeta entrou onde, mas estou gostando do efeito”, comentou depois de um almoço de domingo onde André participou. E ela tinha razão. Havia uma leveza nova, mesmo com todos os desafios que qualquer relacionamento traz.
Na primavera do ano passado, quando Vênus retrogradou, vivemos uma crise que quase nos separou. A astrologia previa esse período de reavaliação amorosa, mas viver o processo foi… complicado, viu? Tivemos que repensar nossa dinâmica, especialmente porque meu trabalho na redação consumia minhas noites, enquanto André, professor universitário, tinha horários mais flexíveis.
Por fim, aprendi que o mapa astral não é destino escrito em pedra, mas uma espécie de bússola que aponta tendências. As “dicas práticas” que tirei dessa jornada? Conhecer seus padrões astrológicos pode ajudar a fazer escolhas mais conscientes. Se seu Vênus está em Libra, talvez você precise trabalhar o excesso de idealização romântica. Se está em Capricórnio, como o de uma amiga, pode ser necessário relaxar as expectativas de perfeição.
Hoje, depois de tantas reviravoltas astrológicas e terrenas, entendo que cada trânsito, cada aspecto desafiador do mapa, traz um convite ao crescimento. E que, às vezes, o maior desafio venusiano é simplesmente se permitir ser amado como se é — com todos os planetas, aspectos e histórias que carregamos.
No fim das contas, seu mapa astral pode até indicar com quem você vai se relacionar, mas é você quem decide como vai amar. E essa, acredite, é a maior liberdade que os astros nos concedem.
Sobre a autora: Renata Campos é jornalista especializada em comportamento e astrologia, com formação em Psicologia Junguiana. Desenvolveu pesquisas sobre a influência dos arquétipos astrológicos nas escolhas amorosas e mantém a coluna semanal “Astros & Afetos” há mais de oito anos. Sua experiência combinando jornalismo investigativo com conhecimento astrológico profundo oferece uma perspectiva única e confiável sobre como os mapas astrais influenciam nossas vidas emocionais.